sábado, 28 de agosto de 2010

Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei, two.


(...) Colocamos as malas no quarto do hotel, e descemos para caminhar até o local da conferência. Chegamos cedo, e nos sentamos num café. "Quero te dar uma coisa"- disse ele, me entregando um pequeno saco vermelho. Abri na mesma hora. Dentro, uma medalha velha e enferrujada com Nossa Senhora das Graças de um lado, e o Sagrado Coração de Jesus do outro. "Era sua"- disse ele, ao ver minha cara de surpresa. Meu coração começou de novo a dar sinais de alarme. "Um dia- era um outono como este agora, e nós devíamos ter dez anos- sentei com você na praça onde tem o grande carvalho. Eu ia dizer algo, algo que ensaiara durante semanas a fio. Assim que comecei, você me disse que havia perdido sua medalha na ermida de são Satúrio, e me pediu pra ir procurá-la" Eu me lembrava. Ah, Deus, eu me lembrava. "Consegui encontrá-la. Mas, quando voltei para a praça, já não tinha mais coragem de dizer o que havia ensaiado. Então prometi a mim mesmo que só tornaria a lhe entregar a medalha quando pudesse completar a frase que comecei a dizer naquele dia, há quase vinte anos. Durante muito tempo tentei esquecer, mas a frase continuou presente. Não posso viver mais com ela." Ele parou o café, acendeu um cigarro, e ficou um longo tempo olhando o teto. Depois virou para mim. " A frase é muito simples"- disse. " Eu te amo" (...)


Paulo Coelho.

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